História

Escola João de Deus

“João de Deus e João de Deus Ramos são dois grandes nomes da educação em Portugal. Um foi o pensamento, o outro a acção. Um fez o livro, o outro a escola.” - Júlio Dantas

A Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus, com base no método de leitura da Cartilha Maternal, foi criada com o fim de ensinar a ler, escrever e contar. Foram enviados em missão professores devidamente habilitados a muitas e variadas povoações de Portugal. Esta ação destinava-se a “dar às classes populares, educando os seus filhos, mais uma possibilidade de crescimento e progresso”. A referida Associação, fundada pelo mecenas Casimiro Freire, em 1882 (quando 80% da população portuguesa era iletrada), alfabetizou, desde a sua fundação até 1920, vinte e oito mil adultos e crianças. Acompanharam-no nessa iniciativa destacadas personalidades, como João de Barros, Bernardino Machado, Jaime Magalhães Lima, Francisco Teixeira de Queiroz, Ana de Castro Osório, Homem Cristo, entre outros.

As escolas móveis estiveram na génese dos Jardins-Escolas João de Deus: João de Deus Ramos, filho do poeta e criador do método de leitura, cresceu num ambiente de pleno respeito pela infância e presenciou o trânsito dos alfabetizandos e formandos na sua casa, preparando-se, dessa forma, para dar continuidade à missão que seu pai assumira: cuidar da educação do povo e, em especial, da criança portuguesa. Dedicou a sua vida de pedagogo inicialmente às escolas móveis e, numa fase posterior, aos jardins-escolas, totalmente direcionados para a criança, por acreditar serem necessários para preparar as crianças para a vida social portuguesa, aberta a todas as classes sociais. Após a implantação da República, João de Deus Ramos participou na redação do primeiro projeto de reforma educativa republicana (Decreto de 29 de Março de 1911). Um mês depois deste decreto, Ramos fundou o primeiro Jardim-Escola João de Deus, em Coimbra, já centenário. Hoje já contamos com meia centena.

 

 

Assim afirmava Júlio Dantas ao descrever de forma sucinta a importância de ambos os pedagogos na Obra João de Deus.

A história desta Obra começa em 1865, quando o francês Monsier Robert, diretor da Casa Editora Roland, convida João de Deus a escrever uma cartilha para ensinar a ler.

Aceitando o desafio, João de Deus transformou no seu grande projeto de vida construir esse método de leitura. Terminou-o em 1876, embora a edição da Cartilha Maternal (assim lhe chamou) só estivesse completa em 1877. Era então o primeiro método de leitura verdadeiramente português.

Sentindo a necessidade de dar caráter mais amplo e perdurável à obra de instrução levada a cabo, João de Deus Ramos fundou em Coimbra, corria o ano de 1911, o primeiro Jardim-Escola João de Deus. E esse exemplo frutificou. Até 1953, data do seu falecimento, João de Deus Ramos criou 11 Jardins-Escola por todo o país.

A partir de 1920, a Associação de Jardins-Escola João de Deus (assim denominada desde a inauguração do primeiro Jardim-Escola) enriqueceu o número de alfabetizados por aquele Método: 135 640 crianças. Nesse ano iniciou-se a formação de Educadores de Infância, mas só em 1943 seria fundado, com caráter sistemático, o primeiro Curso de Didática Pré-Primária (designação dada por João de Deus Ramos). Vinte anos depois, começa a funcionar um Curso de Auxiliares de Educação Infantil (que viria a ser extinto em 1980), no intuito de evitar que as crianças estivessem entregues a vigilantes sem preparação especializada.

 

 

Exemplo de respeito pela obra desta Instituição dedicada à educação e à cultura – hoje Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) – é, sem sombra de dúvida, a atitude de um dos principais apóstolos do salazarismo: o ministro Carneiro Pacheco. Este, em 1936, decretou o encerramento das Escolas do Magistério Primário, mas não se atreveu, dados o peso e o reconhecimento públicos desta Instituição, a encerrá-la, reconhecendo, por Decreto-Lei de 15 de Agosto de 1936, o respeitoso projeto de responsabilidade e honestidade dessa Instituição.

Foi este o reconhecimento público do trabalho de João de Deus Ramos, que de si próprio dizia ironicamente: “Depois de João Sem-Medo e de João Sem-Terra, eis aqui o João Sem-Nome”. Era nesta modéstia, que se revia o pedagogo que já à época defendia de forma acérrima a causa contra o analfabetismo.

Afirmava: ”É preciso que o povo saiba ler e escrever, é preciso motivar os políticos para a execução desses princípios”. Eleito deputado por duas vezes (em 1913 e 1915), João de Deus Ramos exerceu ainda os cargos de Governador Civil e de Ministro do Trabalho.

A Associação de Jardins-Escolas João de Deus mantém atualmente em atividade 46 Jardins-Escolas distribuídos por diversos pontos do país.

O que é hoje o Método João de Deus deve-se, em grande medida, às ideias pedagógicas do Poeta João de Deus (1830 – 1896), de seu filho, principal mentor, João de Deus Ramos (1878 – 1956), da sua neta Maria da Luz de Deus Ramos Ponces de Carvalho (1916 – 1999), do seu bisneto António Ponces de Carvalho (atual Presidente da Associação de Jardins-Escola João de Deus e Diretor da Escola Superior de Educação João de Deus), bem como a muitas pessoas que, ao longo dos anos, têm colaborado na obra educativa, cultural e humanista dos Jardins-Escola João de Deus.